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Definição

Etimologicamente, a palavra “Dislexia” é composta pelos radicais “dis”, que se refere a uma ideia de difícil e “lexia”, que significa palavra. No seu sentido literal, o termo refere-se, portanto, a dificuldades na aprendizagem da palavra (Montenegro, 1974). Nos últimos anos, o conceito tornou-se mais específico, designando uma síndrome determinada, que se manifesta em dificuldades de distinção ou memorização de letras ou grupos de letras e problemas de ordenação, de ritmo e de estruturação das frases (Torres e Fernandéz, 2001).

Nos anos 70, a Dislexia era considerada uma doença social grave, que afetava um elevado número de alunos, considerados “pacientes”, como podemos constatar através das palavras de Montenegro (1974). “As percentagens de escolares afetados pela Dislexia e pela disortografia são verdadeiramente notórias para que o fenómeno deixe de constituir um grave problema para os próprios pacientes, os pais, os mestres, os especialistas” (pág. 6).

Nos dias de hoje

De acordo com a Associação Internacional de Dislexia, a Dislexia é uma dificuldade específica da aprendizagem, com origem neurológica, caracterizada por dificuldades no reconhecimento adequado das palavras, por um discurso pobre e dificuldades de descodificação, resultantes de um défice na componente fonológica da linguagem, muitas vezes surpreendente, quando comparado com as capacidades cognitivas e com as aprendizagens em outras áreas.

Nos dias de hoje, as dificuldades de leitura e escrita continuam a constituir um dos principais obstáculos que surgem ao longo da escolarização, na medida em que, além da dificuldade na aquisição da leitura ou escrita em si, causam dificuldades em outras áreas de aprendizagem, condicionando todo o percurso escolar do aluno. As dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita podem ser consideradas como dificuldades que se manifestam na aquisição de competências básicas, sobretudo na fase de descodificação, as quais se mantêm posteriormente na fase de compreensão e interpretação de textos (Rebelo, 1993).

Rebelo (1993) divide os problemas na aprendizagem da leitura e escrita em dois tipos: gerais e específicos. Os primeiros resultam de fatores exteriores ao indivíduo ou a ele inerentes, no caso de se tratar de uma deficiência. Os fatores extrínsecos podem envolver situações adversas à aprendizagem normal, como o edifício escolar, organização, pedagogia e didática deficientes, abandono escolar, relações familiares e sociais perturbadas ou meio socioeconómico e cultural desfavorecido. Os fatores inerentes ao indivíduo referem-se à presença de uma ou mais deficiências declaradas. Tendo em conta a referência a aspetos como a presença de uma deficiência ou o meio social e cultural desfavorecido, este tipo de problemas não poderia ser incluído na categoria das Dificuldades de Aprendizagem, na medida em que estas excluem, por definição, estes fatores causais.

Os problemas específicos de aprendizagem da leitura e escrita situam-se, segundo o autor, ao nível cognitivo e neurológico não existindo para os mesmos, explicação evidente. Este défice era associado, inicialmente, a uma perturbação neurológica provocada por um traumatismo adquirido, com afetação do cérebro. À medida que a investigação na área se desenvolveu, a etiologia da Dislexia tornou-se mais esclarecedora, nomeadamente no sentido em que se constatou que esta surgia também em indivíduos com uma inteligência normal, sem problemas neurológicos ou físicos evidentes. Além disso, não apresentavam problemas emocionais ou sociais e não provinham de meios socioeconómicos e culturais desfavorecidos (Torres e Fernandéz, 2001). Assim, quando o indivíduo, apesar de reunir condições favoráveis para a aprendizagem da leitura, manifesta inesperadas dificuldades, então apresenta dificuldades específicas de leitura (Citoler, 1996 cit. in Cruz, 1999).

Existem várias expressões semelhantes para definir as dificuldades específicas de leitura, mas o termo tradicionalmente mais utilizado é o de Dislexia (Rebelo, 1993). A Federação Mundial de Neurologia define-a como “a dificuldade na aprendizagem da leitura, independentemente da instrução convencional, adequada inteligência e oportunidade sociocultural. Depende, portanto, fundamentalmente, de dificuldades cognitivas, que são frequentemente de origem constitucional” (1968, cit. in Fonseca, 1999, pág. 290).

Nesta perspetiva, a Dislexia é considerada uma perturbação da linguagem que se manifesta na dificuldade de aprendizagem da leitura e da escrita, em consequência de atrasos de maturação que afetam o estabelecimento das relações espácio-temporais, a área motora, a capacidade de discriminação preceptivo-visual, os processos simbólicos, a atenção e a capacidade numérica e/ou a competência social e pessoal, em sujeitos que apresentam um desenvolvimento adequado para a idade e aptidões intelectuais normais (Torres e Fernandéz, 2001).

Segundo as mesmas autoras, esta conceção de Dislexia como um atraso específico de maturação, permite que a mesma seja entendida como uma perturbação evolutiva e não patológica, o que apresenta consideráveis vantagens no domínio da avaliação e da intervenção, nomeadamente permitindo a identificação de diferentes tipos de Dislexia.